segunda-feira, 14 de março de 2011

A ESTRUTURA DA SEMENTE E SUA PROTENÇÃO NATURAL

Por Fabrício Becker Peske (Revista Seed News Ano XV - Nº1 - Jan/Fev 2011)


Há cerca de 360 milhões de anos, surgiram as primeiras espécies que formavam estruturas ligeiramente similares às sementes, no entanto, foi somente há cerca de 250 milhões de anos que as sementes realmente tiveram sua chance para estabelecer o seu lugar no planeta.
Neste período houve a formação da já bem conhecida pangéia, a qual se caracterizava por ser um "enorme continente" com vasta área de terra. A formação deste continente impulsinou o resfriamento terrestre, trazendo ao fim áreas mais áridas e, assim, ambiente propício para a mudança na hegemonia da multiplicação de espécies.
Um ambiente mais seco e frio não era mais favorável à multiplicação das espécies vegetais por meio de esporos, os quais sem umidade e temperaturas confortavelmente mais elevadas, não possuíam estruturas necessárias para resistir ao longo do tempo e, nem mesmo, capacidade para viajar grandes distâncias e propagarem-se sem o auxílio do meio aquoso.
Assim, nasceu a oportunidade para uma das maiores adaptações ou invenções da natureza tomar o seu lugar e "popular" no planeta terra, as sementes. Essas, fornecem um meio muito mais seguro para a reprodução sexual, sendo independentes de água e com enormes vantagens em ambientes secos, tanto em termos de resistência como em propagação em grandes distâncias. Hoje, 97% das plantas existentes produzem sementes.
A semente é basicamente formada por três partes: o embrião, o tecido de reserva e o tegumento. O embrião é o tecido do qual, ao germinar em condições apropriadas, surgirão as estruturas essenciais da plântula, como a folha e a raiz primária.
Como toda forma de vida que venha a se afastar de seus genitores, a semente também necessita de recursos particulares para a sua sobrevivência e propagação.
Assim, o tecido de reserva, presente nos cotilédones da maioria das dicotiledôneas como feijão, soja ou algodão, e presente no endosperma de monocotiledôneas como arroz, milho ou trigo, pode ser imaginado como a uma última ajuda ou esforço materno para garantir a sobrevivência da progênie.
A media em que surgiram as condições específicas de temperatura e umidade ideais para cada espécie, haverá a quebra do estado de latência e, consequentemente, a germinação das sementes, mobilizando as reservas, as quais são utilizadas para o crescimento incial da plântula, desencadeado inicialmente pela protusão inicial da radícula através do tegumento da semente.
Com a principal função de fornecer proteção às demais partes da semente, o tegumento, o qual advém do integumento do óvulo, possui elementos mecânicos que conferem rigidez ao envoltório das sementes, com células esclerenquimáticas, as quais podem possuir paredes lignificadas, auxiliando significativamente na resistência à situações adversas como danos mecânicos e ataques de patógenos em geral.
Em algumas espécies como trevos, quiabo e soja perene, o tegumento das sementes é impermeável à água por um determinado período de tempo, sendo considerado uma das causas de dormência. Esta característica permite uma distribuição temporal da germinação, a qual é uma estratégia desejável para a preservação da espécie.
além disto, sementes "duras" são bastante úteis na dispersão das sementes. No caso de serem ingeridas por animais, muitas vezes aves, o tegumento "duro" protege contra danos mecânicos ou químicos a que possam se submeter durante a alimentação e o trato digestivo do animal, vindo a serem regurgitadas ou expelidas através das fezes em locais distantes da planta mãe.
Em situações em que não há a apropriada integridade da estrutura de proteção das sementes, alguns fatores podem comprometer o desempenho da semente.
Dependendo da integridade do tegumento da semente, o problema mais óbvio e propício de ocorrer é o dano por embebição, o qual, devido à menor capacidade de resistência à entrada de água e, em ambientes com pouco oxigênio e temperaturas baixas ou sub-ótimas, acarreta condições inadequadas para o perfeito desencadeamento do metabolismo do processo de germinação, culminando na deterioração da semente no solo, ou no aparecimento de plântulas anormais.

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